Violência

A violência se tornou parte do cotidiano da população brasileira, diariamente somos “bombardeados” pelos diversos meios de comunicação com casos de agressões, mortes, brigas domésticas, brigas no trânsito, até mesmo em ambientes esportivos e no trabalho. Todavia como se pode explicar o aumento substancial nos últimos anos dos diversos tipos de violência? Existe relação da violência com as mudanças socioeconômicas ocorridas no país nas últimas décadas? Qual a relação do consumo de drogas e aumento da violência?

Na leitura do estudo “Exclusão socioeconômica e violência urbana” de Sérgio Adorno podem-se extrair três explicações principais para o aumento da violência urbana:

• As mudanças ocorridas na sociedade brasileiras nos últimos cinquenta anos principalmente na área do trabalho, Estado e economia.

• A formação de um “Estado paralelo” com a substituição do crime contra o patrimônio (assaltos, roubos, furtos, etc) por organizações criminosas que agem sob um modelo “empresarial”.

• E a criação de uma econômica “subterrânea” criada pelo tráfico, principalmente de drogas e armas.

O Brasil vem passando por mudanças drásticas nas últimas décadas, anteriormente a população estava concentrada 80% no campo e 20% nas cidades, hoje se pode dizer que esta lógica inverteu-se, tal mudança trás consequências importantes no cenário politico, econômico e social. O êxodo rural para as cidades em busca de emprego e remuneração nem sempre se concretizou, deixando muitas pessoas “marginalizadas”, vivendo nas favelas, muitas vezes sem acesso a serviços essenciais como saúde, segurança e educação. A falta destes serviços básicos, e uma política de educação profissionalizante para estas pessoas que se deparam com um mercado de trabalho com exigências diferentes do que anteriormente, criam muitas vezes movimentos como o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem teto). O pouco esforço dos governos para criar politicas para solucionar estas questões sociais definitivamente, e as decisões da justiça que muitas vezes não levam em consideração um contexto social destas pessoas, acarretam por gerar mais violência, principalmente quando relacionado a desapropriações.

A violência urbana não é fruto somente de uma migração populacional, historicamente o Brasil é um país com grandes diferenças sociais, grande concentração de renda. Esse processo se inicia ainda no período do Império com a concentração de terras para o cultivo, e vem se alastrando pelo pensamento patrimonialista incutido na nossa cultura até os dias atuais com o domínio de uma elite que detém o poder (fazendeiros, famílias nos meios de comunicação, grandes industriais, bancários, etc).

Diante de tal cenário a criminalidade foi sendo “margeada” para bairros suburbanos e favelas, e com as mudanças o próprio crime começa a se adaptar, mudando seu foco dos crimes contra o patrimônio e passando a integrar o tráfico de drogas e armas, isso exigiu por parte da delinquência a criação de uma estrutura mais organizada ou estrutura “empresarial” e desenvolvimento de uma logística apurada de distribuição, armazenamento e melhor armamento do crime. Utilizam-se também da proximidade com as comunidades mais carentes, que em grande parte não possuem oportunidades de por meio do estudo e trabalho de mudar sua condição de vida, atraindo-os, na promessa de poder, status social e dinheiro.

Com o passar dos anos o uso de drogas pela sociedade vem aumentando, o que antes atingia em grande parte somente as classes mais pobres, hoje já está nos condomínios da classe média e prédios de luxo, ocorrendo inclusive a diferenciação da droga utilizada, iniciando na maconha e craque até a heroína e drogas sintéticas vindas de fora do país.

Assim o governo vem ano após ano investindo numa política de repressão que agora começa a ser rediscutida, visto que o poder econômico e de armamento que o tráfico alcançou está superando a capacidade de governo de reprimir. Isso se dá devido ao grande valor que drogas e armas possuem, criando uma economia “paralela” de valorização de armas e das drogas quanto maior a repressão. Contudo esse “negócio” bilionário não está restrito somente as favelas, para que ele se concretize é necessária uma grande rede, seja para lavagem de dinheiro, importação de armas, lobby político para criação de leis e até mesmo proteção dentro dos presídios.

Finalizando, pode se dizer que a violência em nosso país tem origens históricas, iniciando nas primeiras revoltas contra o império, passando pela ditadura militar e mesmo com alguns avanços na área dos direitos humanos ela ainda se mostra em nosso período democrático. Suas ramificações se dão tanto devido a grande concentração de renda e diferenças sociais, como em relação ao acesso a educação, saúde e ao próprio sistema de justiça. Em função desta realidade que também se fazem tão necessárias as reformas políticas, tributárias (que faz com que os pobres paguem mais impostos) e do sistema judiciário, pois as causas raízes da violência só poderão ser solucionadas quando grande parte da população tiver acesso aos serviços públicos essenciais como educação de qualidade, acesso ao poder político, acesso ao sistema de justiça e imparcialidade do mesmo para julgar pobres e ricos sob a mesma base moral, fazendo vigorar uma democracia de fato e não apenas de direito.